A lua ilumina os meus caminhos, o sangue nas minhas veias ferve, minha pele arrepia e o meu coração bate forte para lembrar que ele me pertence. Esse caminho para tantos tão caótico, é onde eu chamo de casa.
“Já sei para onde eu vou, eu vou sentir o calor da rua”
Desde muito menina varo a madrugada em busca de respostas, como uma andarilha ou até mesmo uma eremita, se assim você preferir me chamar.
Mas embora pareça que nada tenho, a sabedoria não cabe no bolso e nem se conta em moedas, às vezes é preciso perder tudo para entender o mundo e você mesmo.
E foi dentro dos olhos desses caminhantes que nada possuíam que eu encontrei as respostas que eu procurava e que continuam aparecendo para mim.
Foi por essas ruas no meio da madrugada, sentada em colchões, ouvindo a história de cada um, abraçando, dando a mão e entendendo os porquês de estar na rua.
Foi porque consegui ver um lado de Exu e Pomba Gira que nunca havia pensado em ver que consegui entender a minha riqueza e também a minha pobreza.
A humildade daqueles rostos, a força de quem não tem nada a perder, a coragem, a liberdade, o senso de pertencimento no mundo e principalmente a risada estridente.
Como é possível rir em tal situação? Quando não se tem nada?
Porque quando nada se tem e a tudo pertence, você é um andarilho, um cidadão do mundo e é a rua que é o seu lar.
É olhando nos olhos da minha própria miséria que encontro a minha força e a minha clareza. É nos braços da noite que eu corro, caminho, danço e sinto a água e o fogo que correm nas minhas veias. Um mistério impossível para quem não está disposto a dar tudo o que tem em busca da própria sabedoria.
Eu estou.
E quantas vezes necessário, serei capaz de me consumir nessas chamas e das cinzas ressurgir formando uma nova casca, cada vez mais forte e inquebrável.
Eu sei quem sou, por onde ando e o lugar que eu ocupo nessas ruas.
A encruzilhada pode parecer um lugar de muitas dúvidas para a maioria das pessoas que conheço mas para mim é o encontro dos caminhos onde regojizo a minha liberdade.
Laroyê!
Créditos da imagem: Tata Augustin de Satã, 1975.