Houve uma gestação para escrever sobre este tema, afinal tem sido um tema espinhoso a se expor nesta “guerra dos sexos” e “dentre o mesmo sexo”. Que homens tentem defender o poder sob o fraco manto de suas corrupções, é compreensível. Afinal quando a palavra de um homem está corrompida, ele há de se agarrar a qualquer chance de manter o tal do “poder”.
O que me deixa curiosa é a guerra “dentre o mesmo sexo”. Feministas de um lado, conservadoras de outro. Feministas radicais e liberais de outro[1]. A competição da “maior miséria possível” e a virulência no diálogo com supostos e provados “abusadores” ou no desumanizante “machos escrotos”. [i]
Fico pensando no que está ou não está funcionando. Ao mesmo tempo, fico pensando naquelas mulheres que não estão nem pensando nesta guerra toda porque têm jornada dupla de trabalho[ii].
O caldo engrossa quando entra o rebanho dos pastores que querem muito que a gente morra mesmo é aliviado, tendo pago a conta desta miséria cultural e social.
Tudo em nome do Brasil do futuro que nunca chega. Porque talvez amanhã a gente possa dar as mãos. Talvez amanhã Deus vai me olhar e o Diabo parar de me tentar. Só amanhã eu vou poder respirar aliviada.
No microcosmo das minhas relações, eu noto os homens que buscam a edificação do novo homem, que buscam valor para suas palavras, porque uma das coisas que define um homem poderoso é o peso de suas palavras. Se suas palavras não têm ônus, jamais poderiam reclamar o bônus numa comunidade. Homens: me digam se estou redondamente enganada, eu não poderia falar por vocês.
No macrocosmo em que vivo, percebo homens tão perdidos quanto as mulheres.
Não é uma crítica particular a ninguém. É minha cisma em não comprar ideias prontas de quem tem “a razão” e eu prefiro ser feliz do que ter um caminhão de razão. Desejo o mesmo a vocês, afinal, tá todo mundo se levando muito a sério.
Enquanto os homens patinam sem sucesso nesta exaustiva pilha de poder e pelo poder, de que fique bem claro quem é o “pica das galáxias de todo o universo”, as mulheres perdem tempo se estapeando “pelo direito de voz” entre elas. No frigir dos ovos de quem tem a razão neste angu inteiro.
Enquanto a genitália parece definir o quociente mental para os dois lados, um lado tenta tirar o poder do outro. Tem valido soco, porrada e pontapé, incluindo golpe baixo.
E é aqui que eu tenho um pensamento curioso me atormentando.
Eu acho que poder também tem a ver com a capacidade de conhecer as pessoas com verdadeira empatia até que a relação se defina como proveitosa para todos os envolvidos.
E é aqui que eu constato que homens e mulheres estão falhando miseravelmente em se ajudar.
Eu, particularmente, não creio que feminismo ainda deva ser uma trincheira. O feminismo deveria ser uma ferramenta para compartilhar saberes entre homens e mulheres, igualmente, com a mesma empatia e maturidade que esperamos uns dos outros. Alguém tem que mostrar como se faz[iii].
Já não é sobre “que tipo de relação funciona”, é sobre “como se relacionar com os outros”. Já não é sobre o “abrir de pernas”, mas a “sabedoria de fechar sua fonte”. Já não é “tomar o poder” mas se “gerar poder” e a resposta está em nossa maioria. Façamos as contas.
Talvez, como um bárbaro exercício, todos nós pudéssemos sair do nosso lugar de dor antes de nos relacionarmos uns com os outros.
E se tiver palavra, um voto em ser hoje alguém melhor do que ontem.
[1] “Poder é toda chance, seja ela qual for, de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a relutância dos outros.” Esta frase é de Max Weber, certamente um campeão de razão.
[i] Temos que decidir se genitália é realmente o que define o tratamento da pessoa humana, penso, porque se não, temos um problema de pesos e medidas sociais. Empatia, lembra?
[ii] E é aqui que tenho que aplaudir e agradecer em pé todas as feministas que lutaram por todos os direitos que conquistamos. Foi por todas nós! Mulheres que morreram, que apanharam e que foram aprisionadas. Sem elas, não teríamos chegado nem ao direito de voto. Lembrem-se disso mulheres!
[iii] Afinal, gente que fala pra ter razão tem um monte, dureza é achar quem faz para mostrar.
Imagem: Karolina Ryvolova, com Barbora Říhova, série Goddesses, em Bored Panda
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