É isso. Quanto mais a gente demoniza o humano, pior tudo se torna. Eita armadilha barata essa de achar que as pessoas todas são podres e não tem solução e que trancar gente na cadeia resolve alguma coisa.
Suzy não é um diabo. Suzy é gente. É gente que fez muita merda? Com certeza. Entretanto, ela tem direito a amor e a compaixão. É verdade. Digo mais: se alguém não der isso a ela, ela provavelmente não saberá JAMAIS reconhecer/dar isso também e nunca se transformará em uma pessoa melhor.
É muito importante notar que nada disso é oposto ao direito e ao ordenamento legal. Ela deve pagar pelo crime. Lembremos, entretanto que isto deve ser feito sem que sofra crimes também. É o mínimo, gente. Idealmente, porém, a coisa deveria ser ainda melhor: ela devia ter a chance de mudar. É sobre isso que escrevo.
Ainda bem que existe um Dráuzio. Aliás, existem vários. É que esse é o que na TV e que fica mais fácil de acompanhar. Sorte nossa ainda ter gente assim. Imagina se todos se reunissem em volta das pessoas com tochas e cordas? “Ah, mas eu sou cidadão de bem” – pensa o iludido. Meu querido, a gente é “de bem” até certo ponto. Se começarem a enforcar Suzys, daqui a pouco tão queimando qualquer um por qualquer coisa.
Não precisa nem ir tão longe. Deixa uma pessoa quinze anos presa numa jaula. Não dá comida digna. Não dá ocupação. Não dá higiene mínima. Não dá também chance de sociabilidade. Ah, repete na cara dela todo dia que ela é “uma merda” e que “não tem solução”. Aí solta essa pessoa no mundo.
Fórmula certa para cagada geral e irrestrita.
Sejamos bem claros aqui… vocês acham mesmo que a comoção toda foi realmente por conta do crime bárbaro que Suzy cometeu? Será que não tem nada a ver com o fato dela ser trans? Food for thought.
Na boa, meu povo, vamos tentar concordar com uma só coisa, ok? Perpetuar ódio só acaba em merda. E merda a gente sabe: fede, boia e acaba no ventilador.
Não se trata de “levar pra casa” e nem de ser amigo próximo de gente que não bate com nossos valores. Não se trata também de “relevar”. Como eu já escrevi, quem erra tem que arcar com as consequências (paremos para pensar se realmente SEMPRE sofremos algum efeito direto ou indireto dos erros que cometemos).
É o seguinte: pessoas melhores tornam o mundo melhor.
Imagina que maravilha um mundo no qual seu vizinho não te enche a porra do saco. No qual você anda na rua e não tem ninguém pra te roubar ou violar qualquer outro direito teu. Imagina se todo mundo zelasse pelo banheiro do Starbucks. E por aí vai.
Percebam, pessoas: se ajudarmos os demais e se estivermos contribuindo para uma realidade mais pacifica e amorosa, tudo isso volta pra gente. Agora, isso tem que ser irrestrito. Todos tem que ser auxiliados.
Então, se você não é capaz de ser altruísta ou de ter compaixão. Seja pelo menos a porra de um egoísta inteligente. Note que se todos estiverem felizes e bem, ninguém te fará mal. Ou que pelo menos as chances disso ocorrer serão bem pequenas.
É claro que a vítima de um crime bárbaro provavelmente não esteja lidando muito bem com a ideia do criminoso recebendo outra chance e sendo bem tratado. É uma coisa da experiência terrível pela qual a pessoa passou. É uma personalização da barbárie. É completamente compreensível e deve ser respeitado. O desejo por justiça pode mesmo (e geralmente leva) a estes locais mais sombrios. Voltaremos a isso no final!
Entretanto, tenho certeza de que a melhor maneira de respeitar esse sentimento difícil do outro é fazendo nossa parte pra botar as coisas nos eixos. Se essas pessoas estão fragilizadas e não podem auxiliar nisso, bora lá fazer por elas, então. No fim, todo mundo se beneficia. Eu, pelo menos, gosto de pensar que essa é a melhor maneira.
Não sou santo. Também faço merda. Tenho meus preconceitos. Nem sempre consigo viver desse jeito que considero correto e necessário. O medo e o rancor também me pegam. Então, antes que me chamem de hipócrita, aviso que escrevo para despertar ideais – em mim e em vocês.
Dráuzio, meu chapa. Um beijo.
Notícias de última hora: Dráuzio publicou um vídeo pedindo desculpas à mãe da vítima de Suzy. É evidente que é a atitude mais sensível a ser tomada. Afinal, a família da vítima deve ser respeitada e preservada.
Suzy tem direito a todo o suporte, inclusive abraços e tudo mais, mas a família da vítima não deve ser jamais obrigada a reviver o trauma ou ser exposta a qualquer elemento do crime sem que haja consentimento. Isso é bom senso. Digo mais, isso não vale só para o Dráuzio dando abraços, mas também para os abutres da TV que ficam explorando os crimes e criminosos até a última gota de sangue.
Da próxima vez, preservar a identidade do criminoso deve ser considerado. Certamente seria um ato de compaixão às vítimas e seus próximos. O abraço continuaria valendo. Não é o registro em vídeo que ajuda.
Imagem: tumblr
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