“Cuidado com o que você expulsa – a vaga é rapidamente preenchida.” – A.O. Spare
Transferência é um termo usado na psicologia para descrever um fenômeno no qual um indivíduo redireciona emoções e sentimentos, geralmente de forma inconscientemente, de uma pessoa para outra. A transferência ocorre através de uma ampla gama de projeções internas dadas a essa terceira pessoa que o terapeuta representa. Portanto, nesse relacionamento, a Terceira Pessoa tem a função de receber estas imagens projetadas, que são arrastadas dos muitos infernos obscuros da pessoa que está lidando com seu senso de integridade, de auto aceitação, vergonha, negação e outros sentimentos. O que é essencial entender é que a transferência indica que nenhum relacionamento real é estabelecido; mas que a Terceira Pessoa serve como uma tela em branco para os monstros e parasitas subconscientes que vivem rastejando e arranhando as masmorras claustrofóbicas da sua psique.
A transferência refere-se à maneira em que um paciente impõe suas ideias, valores e qualidades ao terapeuta, e que revelará as necessidades e carências na vida do próprio paciente. Isso pode fazer com que o terapeuta seja visto como um irmão perfeito, um amante perfeito, um herói ou qualquer outra coisa nascida de algo abismal, ou algo ausente ou destruído na história de vida da pessoa. A linguagem da transferência é uma composta de sombras, medos, aspirações e esperanças e, em situações terapêuticas, a transferência é uma ferramenta extremamente importante para se entender quem você é e o que realmente deseja na vida, estabelecendo hierarquias de prioridades e desmascarando o medo.
Nesse delicado domínio psicológico pode ocorrer a contratransferência, onde a miragem dada é aceita e posta em prática como se fosse verdadeira. Para dar um exemplo: você está tendo um dia ruim, cheio de tensões e agressões, mas não encontra lugar para colocá-las. Você encontra o seu parceiro e faz chover o enxofre fervente do inferno depois de encontrar qualquer coisa desagradável em casa, usando aquele motivo como uma desculpa para expor seu conteúdo emocional ao seu parceiro, transformando-o em uma causa para tudo o que é ruim em sua vida. Na realidade, você pode estar projetando essas emoções negativas em seu parceiro porque procura escapar do desconforto emocional de uma maneira ou de outra. Essa projeção é uma transferência temporária, na qual você vê seu parceiro como alguém digno de cuidar de seu lixo emocional. Se o seu parceiro aceita esta posição e começa a reagir lançando para você o lixo emocional dele, e é assim que temos a contratransferência.
O fato é que fazemos transferências o tempo todo, em todas as situações sociais possíveis. Projetamos em várias situações que não nos fornecem muita clareza e lançamos toda a sorte de inseguranças ao ponto de transformarmos amigos em inimigos, e vice-versa também. Na realidade quando colocamos nosso mundo como regra norteadora para a interpretação do outro, estamos nos projetando.
E está tudo bem, ninguém está completamente livre da hipocrisia, mas só podemos diminuir o nível dela chamando as coisas pelo que elas são. Somos criaturas que participam do mundo, do mesmo mundo que os minerais, das bestas, de anjos e demônios. Encontrar a harmonia entre tudo isso é um verdadeiro desafio: ser puro e autêntico, equilibrar as trevas com a luz, mantendo-nos serenamente cientes de nossos limites e substâncias, e nesse processo, refinar o que somos.
Estejamos mais conscientes do que rejeitamos e do que silenciamos. Quando tentamos silenciar estes demônios, frequentemente vamos projetá-los sobre os outros em um drama sutil de transferência.
Arte por @victormosquera
Comments